segunda-feira, 30 de junho de 2008

Em resposta.



Eu sei que nem sempre vou acertar.
Posso me permitir isso.
Passar do ponto, dar o ponto ou encher o ar com o queimado.
Ao final da festa, os convidados sempre reclamam do bolo.
Fico eu contabilizando os gastos.

pretérito...mais que perfeito.

Hoje eu acordei assim. Com saudade.
Daquele avô que morreu dois anos depois que você nasceu.
Daquela boneca de plástico num cestinho azul, a única.
Lembrei das cores da rua na qual você morava, o chão de barro vermelho, o verde das plantações, o azul e branco da escola. Cores da sua rotina, ainda refletem hoje na minha retina.
Tão pequena, tão menina.
Lembrei, agora sem saudade, das tuas mãos destampando panelas, a preocupação com o arroz no fogo.
E aquele cigarro? Deixou um gosto ruim na boca, ainda o sinto hoje e não consegui mais chegar perto do gosto que quase te fez vomitar, melhor assim. Sem vícios.
As bananeiras ainda estão na mesma casa, disse mamãe.
Os gatos, provavelmente morreram. Assim como você morreu em algum lugar dentro de mim.
Ainda assim, fiquei com saudade. Saudade de olhar no espelho e ver você, pequena e magricela.
Saudade dos tempos de menina.
Saudade da Michelle, mas a pequenina.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Sebastian

Quando não se respeita, perdem-se os créditos.
Ou será que se ganha?
Quem ousa desrespeitar?
Ora se não é meu amigo auto-suficiente do lado esquerdo do ring.
Sempre com seus pontos de interrogação ao fim de cada explicação.
Sempre apontando as intempéries alheias com os dedos tortos.
Voa um dente seu pelo ring: aquelas mentiras ditas pra ela.
“Única, linda, perfeita?” Acho que não. Elas também pensam assim.
Espere, espere. Tanto sangue no chão, todo seu?
Aquelas que com as quais você saiu. Aquelas tantas as quais você penetrou, tirando-lhe o mais precioso e em troca entregando-as um certificado em branco e um escarro.
Todas as quais traiu, toda a lágrima que as fez chorar. As mentiras que contou, tantas pra listar. O que você pode falar em sua defesa? Você respeita? Não há respeito quando não se sabe sequer o que ele é.
Como é? Instinto, impulso, impensado.
O perdão que você esfregou na toalha de um quarto qualquer, escorreu em alguma água pelo esgoto.
Dobre os joelhos, sacrifique-se, faça doações. Peça perdão.
E nunca se perdoe. Porque nunca será perdoado.
Em nome do pai? Amém.

domingo, 22 de junho de 2008


As chaves da minha prisão estão em suas mãos.
E estamos parados a um abismo.
Jogue-me. Segure-me, tranque-me ou prenda-me a você.
Mas garanta as chaves. Ate-as ao teu sangue, é a minha vida e a sua, em jogo.
Pois enquanto memória existir, eu estarei aí, e eu posso levar você lá pra baixo.
Prenda-nos, costure os seus sonhos nos meus.
Afinal, formamos bonitos retalhos.
E eu não estou caindo.
Não posso.
Minhas chaves ainda estão com você.
E você nunca cairá, não enquanto estiver comigo.
Mas estamos a passos do abismo.
E se eu quiser pular?
Que a linha dos retalhos seja forte.
Que as chaves tenham se perdido aí dentro.
Que um coração dependa do outro.
O meu depende. O meu é seu. Eis a minha prisão.
Eis o nosso abismo.
Você primeiro. Eu vou logo atrás. De cabeça. E vamos sobreviver.
E vamos viver. E estamos vivendo.
E eu? Eu te amo.

terça-feira, 17 de junho de 2008

É.

Escorreu ao canto da boca mais uma gota de veneno.
Agora as serpentes dos sonhos fazem sentido.
Mais uma maldade.
Sorriu abraçando-se por dentro, que sensação!
Os olhos fitaram um canto como quem procura um comparsa. E a falta de uma figura sólida não a fez diminuir o poder sentido.
Passava a língua pelos dentes, em movimentos provocantes.
Mexia no cabelo como se fossem plumas.
Dos olhos brotavam labaredas. A boca não parava de sorrir.
Os olhos queimavam mais. Conseguiu gargalhar.
O prazer que lhe enchia era único, duraram minutos.
Os olhos tornaram-se cinzas, um suspiro levou todo o fôlego dos risos.
O tédio encostou, precisava de mais.
Ah, a maldade tão fugaz...

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Na verdade, a mais pura verdade?
É muito bom amar.
Parar o que está fazendo, apoiar os cotovelos na mesa e repousar a cabeça e pensar na ‘metade’.
Naquele sorriso. Naquela briga. Naquele beijo.
E é tão bom chegar pertinho das nuvens. E “borboletar” o estômago.
E é brega ouvir um monte de canção recheadas com frases piegas, como se fosse a coisa mais original do mundo. E o melhor delas é sentir o coração apontar a saudade num batimento, só de ouvir e lembrar.
“O amor é a coisa mais poderosa do mundo”, disse-me um amigo.
Ao questionar -lhe o porquê, ouvi um sincero e verdadeiro comentário: “porque deixa as pessoas idiotas” e uma (mais sincera ainda) gargalhada.
E não “é que é”?
Deixa. Enfeitiça. Enlouquece.
Este foi apenas pra lembrar-lhes que todos os dias, devem ser “dia dos namorados”, seja um perfeito idiota todos os dias e saiba o que é ser feliz de verdade.
Renda-se a ele, brinde ao amor, enlouqueça, pegue fogo, respire e viva.
“TIM-TIM”.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cansando.


Poderia começar escrevendo contando-lhes sobre felicidades, sorrisos, cores e brilhos. Mas não. Estou mesmo é cansada. E nem sei de quê, de quem ou por que. Mas estou. Ando perseguindo minha própria sombra. Falando mesmo com meus botões. Alienação, é o estado atual. Novidades não me parecem novas, às vezes só aumenta a quantidade seja de um terremoto, seja de uma criança resgatada. E vou. E estou. E sou. Cansada; não há o que ler de novo, o que ver de diferente, como dito só mais ou menos. Cansa. Mais do Mesmo, meu caro Renato, cansa. Minha rebeldia está cansada, nem levanto meu pé pra chutar o ‘pau da barraca’, mudar o corpo, a cara ou os cabelos. Queria ver o mundo mudar. Queria ver as pessoas saberem me ignorar direito, pra ver se eu consigo não rir ou quem sabe dar de cara com meus desafetos porque não hesitaria em vomitar tudo o que penso deles ao vivo e a cores. Mas todo mundo é covarde, eu proponho um encontro, eu mexo meus pauzinhos para ele acontecer, e vejo as canelas se apressarem pra fuga. Cansa. Eu cerro meus punhos, mas não há ninguém pra bater. Lição number one: se entrar numa briga comigo, venha disposto a ganhar, porque eu não sei perder. E cansa. Agir sozinha, cansa. Brigar sozinha, cansa. Armar armadilhas e vê-los cair em calabouços, cansou-me. Então vou libertar-me, ou buscar novas desavenças, mas isto também cansa. Apaga a luz, fecha a porta. Deixe-me aqui quietinha, quentinha, caladinha. Porque enxergar tudo isso me cansa.