quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Meus caminhos...

“Bodas de Prata” levo na pele, hora como uma brisa leve, hora como um fardo infinitamente pesado.
Duas décadas e meia e esta última, a meia, deu início a uma série de renovações, transformações de dentro pra fora, de fora pra dentro. Mudaram-se os desejos. Abandonei o medo. O que era sagrado deixei cair por terra e se espatifar, e nunca conseguirei fazer com que todos os pedaços tenham o mesmo valor, para mim.
Conheci tão bem dias em que as lágrimas rasgaram a alma e o número de vezes que escorreram deixaram cicatrizes profundas, que há aquelas que nem lembro mais como surgiram, outras se fecharam para sempre, mas algumas ainda doem, muito.
Quanta intempérie passou por mim, e quantas vezes não resgatei a minha infância aos prantos no colo da mãe das mães, a minha. A força dela não se calcula, dona da fé mais sólida que vi, e mesmo que não carregue seu completo exemplo, é meu espelho. E mesmo pegando todos os caminhos errados, os certos devo a ela.
Cito aqui, as vezes que volto minha mente as brincadeiras de criança, medindo sempre o valor deles, meus irmãos. Quando não dei a mão, carreguei no colo, disciplinei no que pra mim era o certo, preocupei-me quando a temperatura parecia elevada, o sangue que aqui corre, corre lá, a dor deles não se propaga eu a chamo para dentro de mim.
Tantas pessoas por aqui passaram, 25 anos.
Muitos me deixaram, nem todos com a imprecisão do “pra sempre”, que neste caso, acaba.
Abriria mão dos que vieram, mal marcaram e logo foram. Sem cicatrizes, sem lágrimas, como uma sombra no escuro, sem valor algum. Dentre estes, que chegaram, apenas um abracei com todas as forças possíveis. Prendi-me a ele como quem se prende a uma mó. E nada me parece prover mais leveza, que ele. Por todos os dias em que houver fôlego, todo meu ar, é dele.
Dei por mim, também, da pesada presença daquele que nunca esteve lá. Ele não viu meu primeiro choro, não sabe qual a primeira palavra dita. Não comprou nenhum brinquedo, não perdeu noites a me velar, não me deu os parabéns, nunca gostou de estar, e mesmo estando, nunca esteve lá. Ainda assim obrigada, pai. Não larguei tudo, porque você me ensinou que se não há pai, há mãe, há irmãos, há amigos, há pessoas que substituem muito bem, você. Se você não está, não sinto sua falta, os tenho.
Parabenizo hoje, os que estão aqui dentro preenchendo meus vazios, misturando-se ao meu sangue, pulsando junto com meu coração, vivos aqui dentro.
Sigo assim, duas décadas e meia. Com um pé acerto e o outro vem logo atrás, errando.
Conserto. E passos dados, sem conserto, ficam aprisionados embaixo do tapete, empoeirados, esperando apenas o momento de alguém trazê-los à tona, sacudi-los, revelá-los. Que venham, eu perdi todo o medo, há algum tempo atrás, não me lembro, cresci. ---------Michelle.