segunda-feira, 26 de maio de 2008

Por cima?

Fale-me mais sobre isso. Eis aqui meu divã.
Escorra a sua alma por ruas desgastadas pelo peso da multidão que assiste suas quedas, como eu. Fale-me mais. Ou tão somente, escreva. Cante aos quatro ventos, aos quatro cavaleiros, aos quatro cantos; cante como você é. Depois cantarei eu, liricamente e bem alto, como sou. Creio que as notas graves suas, com as minhas agudas não combinam.
E eu poderia ajudar você, se eu quisesse. Poderia com poucas palavras dizer o que precisa fazer para parar de dar errado. Mas não quero. To cantando pra quebrar sua vidraça. Você canta para ganhar compaixão de algum coração. Vamos. É... você não cabe aqui. O divã não foi projetado para acomodar um corpo tão auto-suficiente quanto o seu. Então, o projete você. Mostre a eles. Mostre-me. Mostre-se. Vai lá, arregace as mangas, chuta o pau da barraca, faça bem bonito.
Não espere aplausos.
Ouça sua voz ecoar por corredores conhecidos, seu próprio abismo, nosso hospício.
Que a loucura seja bem dita, que alguém mais sinta seus devaneios, como eu sinto. E sintam pena, porque eu não consigo.
Ah sim, o divã, aceita-o? Aceita um café, pra começar? Fique à vontade. A sua dor eu já sei de cor, mostre algo novo: humildade e fique á vontade. A minha vontade.