domingo, 20 de janeiro de 2008

Águas passadas.

O relógio parece afinar-se a cada olhada que dou para ele. Foram muitas.
Não me deixe aqui a inventar cenas, a expor diálogos.
Não me deixe aqui, sozinha com minha mente. Ela me enlouquece quando só.
Não me deixe soltar meus medos.
Não os faça voltar, nunca mais. Não deixe que tomem conta de mim.
Minha válvula de escape é o meu grito. Destruindo tudo que marque o tempo.
Destruindo tudo que faça o dia escurecer-se mais depressa sem redenção.
Mostre-se, tira com a mão o que me tortura. Joga longe.
Proteja-me. Me faça acreditar, todos os dias, que você sempre estará lá.
E esteja.
Então vem deita contra meu peito. Sente a respiração se acalmando.
Veja o quanto eu preciso. Traz pra fora a garotinha, põe no colo e conte uma história... algo sobre “e eles foram felizes para sempre”.

Um Agradecimento

Impressiona como o número 17, dos pés, passa rapidamente para o 34, 35, 36, 37....
A luta pelo equilíbrio nos primeiros passos, a cautela, o cuidado deixamos de lado quando se acredita ter alcançado a completa maturidade, verdadeiramente nunca alcançada, em toda uma vida por mais sofrida, bem vivida, feliz ou pacata possível, não se alcança.
O número do manequim dá um salto, e como é bom saber que crescemos sentir-se grande. As cores preferidas mudam, os lugares são outros. Os pais parecem continuar sábios, mas em algum lugar dos anos decorridos deixaram de ser soberanos. Existe agora o atrevimento de um altear da voz. Há o ‘direito’ de discórdia. Mostra-se o desejo de pegar o caminho diferente do qual sonharam. Coisas, que partem os corações deles em mil, parecem (mesmo dizendo que não) causar certo contentamento. Impor-se, é o verbo. Ensurdecer-se é a lei. Dar trabalho é o decreto.
Tudo isso parece de nada valer quando deixamos de ser e passamos a ter um problema. Na eterna confiança de nascença eles são os primeiros que chamamos os primeiros a saberem, os únicos nos quais confiamos. Que as consciências falem no silêncio avassalador: eles estão lá, aliviando o peso. Não estão? Choram conosco pra sorrirem mais, depois. Pegam-nos no colo, rodopiam e aplaudem mais um obstáculo vencido. Que valor lhes dêem? Quão valiosos são estes que são pais, e não falo aqui dos que te puseram no mundo, necessariamente.
Se existe um caminho, uma surpresa, uma escolha, uma mudança, um abrir de olhos, um presente, qualquer coisa. Aquilo que eles mais querem, a “recompensa” por tudo que são, o faça. Nenhuma. Nenhuma se igualará ao valor que têm. Nada pagará o que são, nada substituirá, nunca. Mas faça hoje, vá. Garanta-os o motivo do mais intenso sorriso.
Eles estão sempre despertos não existe sono, não existe dor, não existe ocupação, não existe compromisso, nada que os impeça de fazer o mesmo por você.
Por amor, por amar, faça. Eles estão lá, esperando. Sempre estiveram. No meu caso ela, minha mãe, sempre está.