quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Clareando


Curando o passado e vivendo o presente, sim senhor.
O passado, como me é de costume, ainda vive no presente. Mas hoje não é assim.
Hoje eu fiz diferente.
Sem o seu principal pivô (ou não) ele será fechado, com todos os pontos possíveis, bem costurados para que tudo: o passado, o presente e o futuro se unam, forme novamente um só, sem marcas, sem cicatrizes. Limpa.
E como é bom abrir as janelas da alma revelando uma luz interminável, não?!
Brilhando.
Que meu brilho cegue, clareie e ofusque, à medida que cada um merecer.
Feche seus olhos, desvie a face. Abra-os mais, mostre-me sua mente.
Mas não esqueça que você vai querer olhar. Em qualquer dos lados que estiver você vai.
E eu estou aqui, te esperando. Venha.
Saiba o quanto é bom o vislumbre do que há por vir, quando você resolve clarear suas próprias veredas, fechar os olhos em aceitação e abraçar o seu próprio escuro que nada mais é que um fiel confidente.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Aceitação

"Se ainda a infinidade me fosse concedida eu a depositaria junto ao monte de brinquedos velhos no canto do quarto.
Não quero vida longa, quero vida frutífera, bela, intensa mesmo que tudo isso aconteça no espaço de um segundo.
Que seja então o segundo mais feliz da minha vida". ---------- Desconhecido.

Vinicius de Moraes... Feito pra nós.

Tudo quanto na vida eu tiver,
Tudo quanto de bom eu fizer,
Será de nós dois.

Uma casa num alto qualquer,
Com um jardim e um pomar se couber,
Será de nós dois.

E depois, quando a gente quiser,
Passear, ir pra onde entender,
Não importa onde agente estiver,
Estaremos a sós.

E depois quando a gente voltar,
O menino que a gente encontrar,
Será de nós dois.

E de noite quando ele dormir,
O silencio do tempo a fugir,
Será de nós dois.

E por fim, quando o tempo fugir,
E a saudade nos der de nós dois,
E a vontade vier de dormir,
Sem ter mais depois.

Dormiremos sem medo nenhum,
Pois aonde puder dormir um,
Podem dormir dois,
Podem dormir dois.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Águas passadas.

O relógio parece afinar-se a cada olhada que dou para ele. Foram muitas.
Não me deixe aqui a inventar cenas, a expor diálogos.
Não me deixe aqui, sozinha com minha mente. Ela me enlouquece quando só.
Não me deixe soltar meus medos.
Não os faça voltar, nunca mais. Não deixe que tomem conta de mim.
Minha válvula de escape é o meu grito. Destruindo tudo que marque o tempo.
Destruindo tudo que faça o dia escurecer-se mais depressa sem redenção.
Mostre-se, tira com a mão o que me tortura. Joga longe.
Proteja-me. Me faça acreditar, todos os dias, que você sempre estará lá.
E esteja.
Então vem deita contra meu peito. Sente a respiração se acalmando.
Veja o quanto eu preciso. Traz pra fora a garotinha, põe no colo e conte uma história... algo sobre “e eles foram felizes para sempre”.

Um Agradecimento

Impressiona como o número 17, dos pés, passa rapidamente para o 34, 35, 36, 37....
A luta pelo equilíbrio nos primeiros passos, a cautela, o cuidado deixamos de lado quando se acredita ter alcançado a completa maturidade, verdadeiramente nunca alcançada, em toda uma vida por mais sofrida, bem vivida, feliz ou pacata possível, não se alcança.
O número do manequim dá um salto, e como é bom saber que crescemos sentir-se grande. As cores preferidas mudam, os lugares são outros. Os pais parecem continuar sábios, mas em algum lugar dos anos decorridos deixaram de ser soberanos. Existe agora o atrevimento de um altear da voz. Há o ‘direito’ de discórdia. Mostra-se o desejo de pegar o caminho diferente do qual sonharam. Coisas, que partem os corações deles em mil, parecem (mesmo dizendo que não) causar certo contentamento. Impor-se, é o verbo. Ensurdecer-se é a lei. Dar trabalho é o decreto.
Tudo isso parece de nada valer quando deixamos de ser e passamos a ter um problema. Na eterna confiança de nascença eles são os primeiros que chamamos os primeiros a saberem, os únicos nos quais confiamos. Que as consciências falem no silêncio avassalador: eles estão lá, aliviando o peso. Não estão? Choram conosco pra sorrirem mais, depois. Pegam-nos no colo, rodopiam e aplaudem mais um obstáculo vencido. Que valor lhes dêem? Quão valiosos são estes que são pais, e não falo aqui dos que te puseram no mundo, necessariamente.
Se existe um caminho, uma surpresa, uma escolha, uma mudança, um abrir de olhos, um presente, qualquer coisa. Aquilo que eles mais querem, a “recompensa” por tudo que são, o faça. Nenhuma. Nenhuma se igualará ao valor que têm. Nada pagará o que são, nada substituirá, nunca. Mas faça hoje, vá. Garanta-os o motivo do mais intenso sorriso.
Eles estão sempre despertos não existe sono, não existe dor, não existe ocupação, não existe compromisso, nada que os impeça de fazer o mesmo por você.
Por amor, por amar, faça. Eles estão lá, esperando. Sempre estiveram. No meu caso ela, minha mãe, sempre está.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Lembrança


O cheirinho dos biscoitos de maisena ainda tomam os meus sentidos.
Remontam um dia em que a plantação logo à frente da casa, estava mais verde que nunca.
Os pés pequeninos, marcaram o chão.
“Quanta sujeira, meu Pai eterno”, tentava endurecer o rosto, minha mamãe.
As pequenas mãos, afoitas ao tentar abrir o forno, recebiam leves palmadas.
Risinhos perdiam-se no ar. Que palmadas gostosas!
Deliciosos, eram, os biscoitos.
Uma simples fornada fazia salivarem as boquinhas aflitas.
E como eram bons aqueles biscoitos, temperados com uma tarde vigiada pelos olhos da mamãe. Que lambia as crias só com o olhar. E como era bom correr pela casa, sem propósito. Sem pressa de crescer, deixando cair migalhas dos tão aguardados biscoitos pelo chão e causando um sorriso, seguido de bronca, na face dela. --------- Michelle.

Uma Saudade,

E todas as lágrimas, que possamos chorar num espaço de tempo em que um dia chuvoso torna-se ainda mais escuro, não seriam suficientes para mostrar a dor. São escassas para arrancar a profunda incompreensão que no seu âmago, se instala.
O carro, outrora objeto de orgulho de suor de páginas do diário, agora disforme.
A chuva que caía cega ao rosto molhado no chão.
As sirenes, as viaturas. A pista molhada.
O sangue embotou-lhe os dentes.
Nada foi capaz de trazê-la de volta.
Ela se foi.
Doía a voz do outro lado da linha, fora de si.
Doía ainda mais não saber o que falar, dói sem medidas.
Espere. Por que detalhar? Ah sim, porque, meu amigo, isso vive.
Console-se: você não precisa ler, se não quiser.
Mas isso, vive. É preciso por um pouco pra fora.
Por que mostrar? Claro, porque não é um segredo.
Simples assim.
Fatos de um fim de tarde, chuvoso.
Os traços não ficaram intactos, cortes na face já limpa. Fria, tão fria. Gélida. Uma pedra de gelo.
O sol em contradição nasceu mais brilhante que de costume, pela manhã. Ela veio de branco. Não havia sorriso em sua face. Não havia expressão de alívio, de um lugar melhor. Não, não venham com esta de que estava na hora.
Porque não estava, demagogias.
Havia ali uma expressão de quem lutou o tempo todo e perdeu.
( ). Falaria de fragmentos da vida, mas falo da morte. Porque é muito fácil expor o que se respira.
Complicado mesmo é sentir o fôlego escapar-lhe, e deixar-lhe totalmente. E saber exatamente onde e porque, dói.
Ou não é?
Eis aí. Foi muito difícil. ---------- Michelle.

domingo, 13 de janeiro de 2008

O conceito

Ninguém nunca a acolheu no seu tão perfeito mundo.
Em pleno exílio, sentia.
Não se nota, nunca se notou. E algo que não é notado desfalece na memória, morre. Chora no canto baixinho, em silêncio. Culpa-se, sem realmente ter culpa. E de lá não sai, ninguém a vê, fica lá. Não houve quem a levantasse. Ficou ali.
Não havia pressa em notar a ausência. Sentida unicamente por ela. A sentia como uma guilhotina a decepar-lhe os membros, um a um, lentamente.
E o jeito dela sempre foi este, reservadamente calmo, tímido, solitário. Não por soberba, que não lhe cabe. Mas por nascituro.
Sente-se tão bem pensando em Ti, sabe tão bem das tuas glórias, dos teus grandes e notáveis feitos. Ela, de fato, é um deles, meu Deus. Sim um deles, apesar de tudo, um grande feito. Porque cá entre nós, ela o é. Eu sei, é.
Mas em meio às reservas, um sorriso singelamente despercebido e um coração grande, enorme, imenso, ninguém a viu. Engolida por tanto sentimento não compartilhado. Quantos “conta comigo” ficaram empilhados. Quantos abraços guardados. As milhares de risadas não dadas, os mil motivos pra rirem com ela, não foram revelados.
Ela nunca esteve lá não é mesmo!? Ninguém nunca notou. E tantas vezes parou para se mostrar.
No sincero resguardo, ora baixinho, agradece em silêncio e O louva com todo o fervor, sozinha, sem multidões, sem um grupo, sem um local em específico. Sem os tantos que tanto dizem que crêem e não acreditam em nada! Sem os que se julgam ateus que bendizem teu nome baixinho por alguém chegar a casa tarde, mas chegar bem, por alguém amado estar por perto na maior precisão, sabe que eles agradecem e assim como ela, acreditam. Minorias crassas e imperceptíveis são aqueles que não o fazem.
Sem esta gente contraditória, trocando os pés pelas mãos tão comumente, acertando fazendo o errado e errando fazendo o certo, ela segue. Hipocrisia, lhe falta, nunca ali esteve, não. Nunca.
Eterno refúgio, salva-guarda, apoio, amparo, seu Deus, fé. Tem. O que não tem é hipocrisia. O adora, daqui. Observando eles lá.
Seus pensamentos Lhe são expostos, nada oculto, nada tão vil assim, Tu conhece, acredito. Será que merece mesmo a sentença apontada?!
Ainda achando que não, achando mesmo que não, assina aqui nome e sobrenome. Amém.---------- Michelle.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Da cor do mar...

Tarde de sol. Os passos deixavam para trás o dia desgastante. O rosto pesava pelo cansaço, a respiração pedia calma. O cérebro, tão atordoado com tantas vozes e tantos afazeres, parou. Fixou-se numa figura que descia da forma mais delicada que a debilitação na perna, apoiada por uma singela bengala, lhe permitia. A retina mirou bem aquela senhora. Na proximidade, um pouco longe talvez, de seus 50 anos, ela descia a avenida, enquanto eu subia. Desconsertou-me seu sorriso tão bem colocado na face, leve, muito leve. Como se a vida fosse mesmo da cor do fundo de seu vestido, quase por um todo, azul. Parecia haver ali toda a paz do mundo, sorria delicadamente como se não escutasse o trânsito, como se sua dificuldade física não existisse. Apenas sorria, com a cabeça alteando levemente o queixo, com uma elegante superioridade às dores do mundo, às próprias dores. Envergonhei-me. Pareci diminuir bruscamente de tamanho pela vergonha. Um pontinho constrangido por maldizer tanto o dia, os telefonemas aborrecidos, ter que subir aquela avenida todos os dias, em pleno estado físico, ô exagerado desânimo, praguejava. E aquela senhora leve, arrastando uma das pernas com o apoio de uma bengala, como se arrastasse uma pluma, descia. Por quantas subidas tinha passado com o seu leve sorriso? Ensinando outros a reclamarem menos, a observarem mais o céu, o azul, a beleza, a leveza, a sorrir.

Este texto é apenas pra registrar este dia, aconteceu esta semana, e ainda me enche os pulmões, em tom de alívio, saber que mesmo esta minha vida assim aparentemente tão corriqueira, reserva surpresas, dos mais inesperados lugares, das mais inesperadas pessoas. Obrigada.
Eu não a conheço, eu só a vi esta única vez, num dia que eu queria ser engolida pela terra. Mas cá deixastes uma lição, pela idade, estado físico, a juventude a abraçou e não abandonou mais, e acima de tudo pelo seu tão singelo e leve sorriso. Agradeço. E que assim seja, amém. Porque de alguma forma é dádiva, digo mais: é dom. ---------- Michelle.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Imagem fala por si.


"... O amor só é amor, se não se dobra a obstáculos e não se curva à vicissitudes...
É uma marca eterna... que sofre tempestades sem nunca se abalar..."---------- Shakespeare

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Impera

E quem diria? Parece que pinto mais minha alma de negro que clareio.
Escureço algumas luzes que queriam aparecer no decorrer do caminho, sobriedade, seriedade, maturidade, garante-me. Sem estilos copiados, o tempo fez-me assim. Bobagens. Minha cor é a da rosa dona do mais puro vermelho, veste-se majestosa dentre as outras, impera num jardim multicor, ousa revelar-se, ruborizada, por natureza feita assim, no tom impactante, avassalador, desnorteia, põe por terra, prende, encanta, fascina, invejada: gela a alma e arrepia.
Minha alma, nem branca, preta ou cinza, queima avermelhada, colore-se de vários tons, intensifica-se. Explosões em cores. Cores pintando um sorriso com bolinhas coloridas, um abraço bem azul, uma lembrança cor-de-rosa, um olhar esfumaçado com verde. Se o preto me cobre a face, o ar logo traz outras cores em guarda garantindo meu arco-íris. Resguardam a beleza vermelha, sentinelas em vigília, súditas, serviçais, leais, vistas daqui de cima a contemplar meus pés, colorindo-me. ---------- Michelle.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Meus caminhos...

“Bodas de Prata” levo na pele, hora como uma brisa leve, hora como um fardo infinitamente pesado.
Duas décadas e meia e esta última, a meia, deu início a uma série de renovações, transformações de dentro pra fora, de fora pra dentro. Mudaram-se os desejos. Abandonei o medo. O que era sagrado deixei cair por terra e se espatifar, e nunca conseguirei fazer com que todos os pedaços tenham o mesmo valor, para mim.
Conheci tão bem dias em que as lágrimas rasgaram a alma e o número de vezes que escorreram deixaram cicatrizes profundas, que há aquelas que nem lembro mais como surgiram, outras se fecharam para sempre, mas algumas ainda doem, muito.
Quanta intempérie passou por mim, e quantas vezes não resgatei a minha infância aos prantos no colo da mãe das mães, a minha. A força dela não se calcula, dona da fé mais sólida que vi, e mesmo que não carregue seu completo exemplo, é meu espelho. E mesmo pegando todos os caminhos errados, os certos devo a ela.
Cito aqui, as vezes que volto minha mente as brincadeiras de criança, medindo sempre o valor deles, meus irmãos. Quando não dei a mão, carreguei no colo, disciplinei no que pra mim era o certo, preocupei-me quando a temperatura parecia elevada, o sangue que aqui corre, corre lá, a dor deles não se propaga eu a chamo para dentro de mim.
Tantas pessoas por aqui passaram, 25 anos.
Muitos me deixaram, nem todos com a imprecisão do “pra sempre”, que neste caso, acaba.
Abriria mão dos que vieram, mal marcaram e logo foram. Sem cicatrizes, sem lágrimas, como uma sombra no escuro, sem valor algum. Dentre estes, que chegaram, apenas um abracei com todas as forças possíveis. Prendi-me a ele como quem se prende a uma mó. E nada me parece prover mais leveza, que ele. Por todos os dias em que houver fôlego, todo meu ar, é dele.
Dei por mim, também, da pesada presença daquele que nunca esteve lá. Ele não viu meu primeiro choro, não sabe qual a primeira palavra dita. Não comprou nenhum brinquedo, não perdeu noites a me velar, não me deu os parabéns, nunca gostou de estar, e mesmo estando, nunca esteve lá. Ainda assim obrigada, pai. Não larguei tudo, porque você me ensinou que se não há pai, há mãe, há irmãos, há amigos, há pessoas que substituem muito bem, você. Se você não está, não sinto sua falta, os tenho.
Parabenizo hoje, os que estão aqui dentro preenchendo meus vazios, misturando-se ao meu sangue, pulsando junto com meu coração, vivos aqui dentro.
Sigo assim, duas décadas e meia. Com um pé acerto e o outro vem logo atrás, errando.
Conserto. E passos dados, sem conserto, ficam aprisionados embaixo do tapete, empoeirados, esperando apenas o momento de alguém trazê-los à tona, sacudi-los, revelá-los. Que venham, eu perdi todo o medo, há algum tempo atrás, não me lembro, cresci. ---------Michelle.


terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Fica.

Eu não gosto de ir. Dói o peito, a alma enche-se de você que parece não caber mais, mas cabe. Teu olhar penetra tão fundo nos meus como uma lança das mais afiadas... Pede que fique, quero ficar. Passa dentro dele as imagens dos lábios sorrindo, das vozes cumprimentando-se calorosamente, do pulsar descompassado dos corações avisados pelas imagens tão esperadas refletidas na retina, da tomada das mãos afoitas, do abraço dos corpos, demorado. Passou um filme no teu olhar, que me prendeu, não queria deixar-me ir. E eu não queria ir. Escorregou pelo teu rosto um beijo que queria ficar. Meus braços chamaram os teus pedindo pra que dali, não saísse. Meus olhos se fecharam pra que a lágrima da saudade fosse um pouco mais adiada, procurando não aliciar os teus. O corpo perdia calor, como que jogado a uma temperatura só, fria. Meus sentidos confundiam-se se perdendo dos teus, fico. A voz já sabia o que fazer, manteve-se firme querendo não ser. Disse o que tinha de dizer, mas não o que queria.
A vencedora, a mente. Coordenando aqueles, aconselhando estes, fortalecendo outros, aqui dentro. Exausta, não sabe mais quantas vezes venceu. O quanto já liderou a espera, a ida sempre que te vejo, sempre que tenho que voltar e esperar um novo raiar e o momento exato deste ciclo recomeçar. ----------Michelle.